Bolsonaro vende refinaria pela metade do preço

Bolsonaro vende refinaria pela metade do preço

Governo leiloa primeira grande refinaria do país por metade do preço
Fundo estatal dos Emirados Árabes adquiriu por US$ 1,65 bilhão instalações que valem de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões, segundo estudo do Ineep. Pesquisa da PUC-RJ aponta risco de monopólios privados. Petroleiros da Bahia iniciam greve contra a venda da Rlam e por direitos, empregos e soberania
19/02/2021 09h43 – Atualizado 21/02/2021 petistasdorn.org

A Rlam será entregue ao fundo árabe Mubadala com mais quatro terminais de armazenamento e 700 quilômetros de oleodutos, por U$ 1,65 bilhão (R$ 8,98 bilhões). O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep) aponta que ela vale de US$ 3 bilhões (R$ 16,3 bilhões) a US$ 4 bilhões (R$ 21,7 bilhões). A medida enfrenta a resistência dos trabalhadores que realizam diversas formas de mobilização, incluindo vigília em frente à empresa e greve realizada ontem.

Criado pela FUP em 2008, o Ineep fomenta pesquisas acadêmicas e fornece assessoria para assuntos relacionados ao setor energético no Brasil e no mundo. Seu coordenador técnico, Rodrigo Leão, explica que, para se chegar ao valor da Rlam, adotou-se o método do Fluxo de Caixa Descontado, “um modelo de cálculo que apresenta o maior rigor técnico e conceitual, sendo por isso o mais adotado na avaliação de empresas”.

Segundo Leão, “os dados revelam que a Rlam tem um potencial importante de geração de caixa futura que, a depender das premissas utilizadas, pode estar sendo subvalorizada nesse momento de venda”.

“A Rlam recebeu investimentos de R$ 6 bilhões somente em hidrotratamento nos últimos dez anos. No entanto, a refinaria está sendo vendida por pouco mais que isso, num momento economicamente ruim em todo o mundo. E não é apenas da planta de refino que está sendo vendida a preço de banana, mas toda a infraestrutura de armazenamento e escoamento. É um péssimo negócio para a Petrobras, para a Bahia, para o Nordeste e para todo o Brasil”, aponta Deyvid Bacelar.

Ameaça à soberania e à segurança energética
O processo de venda da Rlam é o mais adiantado entre as oito refinarias que o desgoverno Bolsonaro pretende privatizar até o final de 2021. Juntas, elas representam 50% da capacidade de refino nacional. As refinarias instaladas no Brasil têm capacidade de processar 2,2 milhões de barris de petróleo por dia.

O processo foi autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no começo de outubro do ano passado. A iniciativa da estatal foi questionada pelo PT e outros partidos de oposição, mas o STF considerou que a criação de subsidiárias para facilitar venda de ativos, como está fazendo a Petrobras, não afronta entendimento de 2019, que prevê licitação e aval do Congresso para privatização de estatais.

Além de comprometer investimentos econômicos e sociais em regiões que já estão sofrendo com os desinvestimentos da Petrobras, como o Nordeste, o Amazonas, o Norte capixaba, Minas Gerais, Norte Fluminense e o Sul do país, as privatizações das refinarias e terminais vão criar monopólios privados regionais que irão encarecer ainda mais os preços dos combustíveis e aumentar o risco de desabastecimento.

O problema foi apontado por estudo da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, encomendado pela Associação das Distribuidoras de Combustíveis (Brasilcom). O trabalho analisou seis das oito refinarias à venda: Refap (RS); Repar (PR); Regap (MG); RLAM (BA); RNEST (PE); e Reman (AM). Não foram incluídas a SIX, por não produzir óleo diesel e gasolina, e a Lubnor, por produzir apenas 0,1% da oferta nacional de diesel.

Das seis refinarias analisadas, quatro delas têm potencial elevado para a formação de monopólios regionais: Reman, Refap, Regap e Rlam. “Com exceção da Repar e da RNEST, nas outras refinarias estudadas, a gente entende que, por qualquer dos modais que a gente observa, a possibilidade de estabelecimento de monopólios regionais é elevada”, explicou o professor Márcio Thomé, pesquisador do Departamento de Engenharia Industrial do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, um dos autores do estudo.

O documento destaca ainda que, quanto mais no início da cadeia de abastecimento de combustíveis, maior é a concentração no setor. O mercado brasileiro possui 19 refinarias de petróleo, 157 distribuidores de combustíveis líquidos e 40.990 postos.

Preços dolarizados e erros estratégicos
O parque de refino da Petrobras foi estruturado de forma integrada, para atender a todas as regiões do país, sem que uma refinaria concorra com a outra. A compra de uma refinaria por uma companhia privada não criará disputa, mas irá promover o controle do mercado por um ente privado, sem qualquer compromisso com o abastecimento e com a oferta de produtos a preços acessíveis à população.

Se a política da atual gestão da Petrobras de Preço de Paridade Internacional (PPI), adotada em 2017 pelo usurpador Michel Temer, já vem penalizando a população – nesta quinta a empresa anunciou o terceiro reajuste da gasolina e o segundo aumento do óleo diesel e do gás de cozinha no ano –, o Fundo Mubadala, por exemplo, terá total liberdade de cobrar o preço que quiser pelos produtos que a Rlam produzir. Ou mesmo vender os produtos no mercado internacional, causando desabastecimento.

A venda da Rlam é ainda mais grave porque a refinaria tem sido peça-chave para equilibrar o desempenho financeiro da Petrobras durante a pandemia. “A gestão da Petrobras vai entregando ativos lucrativos e importantes para o resultado da empresa. Com a venda de tantos ativos que dão lucro, o que será da Petrobras? Por isso afirmamos que a empresa está sendo privatizada aos pedaços. Não vai sobrar nada. A Petrobrás vai ser tornar uma empresa pequena e mera exportadora de petróleo cru, sujeita a perdas imensas com o sobe-e-desce das cotações internacionais de petróleo”, reforça o coordenador geral da FUP.

Para o diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Ricardo Maranhão, as gestões passadas, de Pedro Parente e Ivan Monteiro, e a atual, de Castelo Branco, cometem um gravíssimo erro estratégico ao abandonar o refino. “À medida que a produção de petróleo cresce aceleradamente, nós vamos aumentar rapidamente a exportação de petróleo cru e, simultaneamente, a importação de derivados de petróleo. Estamos retomando o caminho do Ciclo Colonial em pleno século 21”.

Maranhão prevê que a venda das unidades não representará aumento da capacidade nacional de refino e enxerga também prejuízos aos consumidores. “Vender as refinarias é beneficiar os concorrentes da empresa. Isso é inexplicável. Eu não sei se o Sr. Castello Branco é presidente ou liquidante da Petrobras”.

Da Redação do PT.org.br com Imprensa Sindipetro Bahia.

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